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Velhice

UMA NOVA PERSPECTIVA

Com o aumento da população idosa no país, a terceira idade resiste para encontrar maneiras de sobreviver em meio ao abandono de suas próprias famílias

“Minha primeira noite foi em um quarto com mais 4 idosos. No dia seguinte, acordei com pessoas que eu nunca tinha visto na vida”, afirma João Martins Ferreira, 76 anos, residente do Lar Torres de Melo. Seu João mora no lar para idosos a cinco anos, para ele, a mudança não foi uma decisão, mas sim uma necessidade. O Lar Torres de Melo abriga, além de Seu João, uma média de 240 idosos na capital cearense, sendo composto de 30% por homens e 70% por mulheres. O local oferece quartos comunitários, de quatro pessoas e individuais. As taxas de preço dos quartos variam, podendo ultrapassar o valor de 2 mil reais para o idoso dormir em um quarto sozinho.

 

Essa é a realidade de muitos idosos no Brasil. Desde 2012, o número de pessoas com idade avançada cresceu no país, chegando a mais de 30 milhões em 2017. É o que diz a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - Características dos Moradores e Domicílios, divulgada pelo IBGE. Diante dessa situação, o descaso com a população idosa também cresceu, cerca de 11,7% do aumento de denúncias só no Ceará, os dados são do levantamento do Ministério Público Estadual (MPCE), de 2017. Dentre essas denúncias, o abandono do idoso é o que mais prevalece entre elas.

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“Nós somos tratados como lixo humano. Inúteis”, revela seu João que sempre anda de transporte público pela cidade. Ele relata diversas situações em que foi ignorado dentro dos coletivos por pessoas mais jovens. “Ai eu to no ônibus e as pessoas encontram alguma maneira de me ignorar, estão confortáveis em seu lugar e não querem me ceder o assento. Você está sentada e vê um idoso. Você teria que se sentir mobilizada para se levantar e oferecer o lugar a ele. Porque você faria isso? Amanhã você será uma idosa, você precisa aprender a lidar com isso”, desabafa. Para ele o abandono não vem só das famílias, mas também da sociedade, que não reconhece o valor do idoso.

 

Situações de negligência são frequentes no dia a dia da terceira idade. “Qual a estrutura que a gente dá para o idoso?” Indaga a mestranda em psicologia Angélica de Sousa. Em sua pesquisa, voltada para a “Relações sociais e ambiente”, ela evidencia como a sociedade e as políticas públicas não proporcionam soluções eficientes para o idoso. “Se a gente for prestar atenção nos pequenos detalhes na nossa cidade dá para perceber que ela não foi feita para um idoso, por exemplo, atenção nas calçadas que são um perigo tanto para o idoso como para o deficiente, na luminosidade nas ruas, os sinais de trânsitos que são rápidos, uma pessoa com deficiência ou idosa não vai conseguir passar”, comenta.

Lares de idosos

Instituições

São entre as paredes amarelas dos quartos do Lar Torres de Melo que os idosos passam a maior parte do tempo. A vida dentro de uma instituição como essa pode não ser fácil. Seu João não gosta do barulho e queria ter uma biblioteca para ocupar a cabeça, mas se contenta com uma revista antiga, que leva sempre consigo. 

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 Fotos: Lígia Grillo.

Para ele, o grande problema é viver em um lugar feito para idosos que não foi projetado por um. “O Japão está lançando um projeto de centros de convivência para idosos. É pleno porque os idosos participaram desse projeto e eles colocaram lá o que eles gostariam de encontrar em um lugar desses”, comenta.

Apesar dos pequenos detalhes não agradarem, a maioria se contenta com a situação em que vive. Dona Maria das Dores, que insiste em ser chamada de Dorinha, tem 84 anos e está no Torres de Melo a mais de 21. Para ela, não existe nenhuma reclamação com relação a direção do espaço. “Quem disser que a direção não é boa, não está dizendo a verdade. Nós somos tratadas bem. Tem ginástica, eu gosto. Tem piscina também, eu tinha medo mas agora não tenho mais”, comenta.

Além do lares de permanência, onde o idoso pode morar em fortaleza, há também centros de convivências para o idoso, que funcionam para a melhoria da qualidade de vida dessas pessoas. Um deles é o Lar Francisco de Assis, que diferente do Lar Torres de Melo, funciona apenas no período da manhã, onde os idosos chegam para fazer as atividades, almoçam e retornam para a suas casas.

 

O Lar Francisco de Assis, sobrevive apenas de doações, não possui nenhuma ligação governamental e os profissionais responsáveis pelas atividades dos idosos são todos voluntários. Em entrevista, Nalva teixeira, coordenadora administrativa e Ana Lurdes Costas, diretora geral, explicam que a instituição tem vários tipos de parcerias com universidades, o que ajuda bastante a sempre diversificar as atividades propostas para os idosos. “ essas parcerias com as universidades é o que nos ajuda a manter os projetos funcionando”, comenta Nalva.

Dona Vera, de 65 anos, nos conta que já frequenta o lar a 12 anos e não tem nenhuma pretensão de parar. “ Tenho muitos amigos aqui na instituição, todos eles, nos se abraçamos, aqui é um pessoal que a gente sente que gosta também da gente! Se eu não tivesse isso aqui, acho que já teria morrido.”   

Relatos

João, 79 anos

Meus filhos me colocaram aqui. bom mesmo é o canto da gente, eu quero ficar bom pra eu sair logo.

Carlos, 69 anos

Minha família não me quis, eu vim pra cá e eles me quiseram.

Dona Vera, 65 anos

Agora que eu estou vivendo minha amiga, antes eu não vivia não, estava por ai a toa.

Relatos
Galeria

Instituições

Os antigos asilos, que hoje recebem o nome de “casas de longa permanência”, eram conhecidos por ser um lugar onde “pessoas que não serviam mais para a sociedade”, como idosos que não podiam mais trabalhar, por exemplo, eram deixados para viver seus dias até a morte. De acordo com a psicóloga Angélica, esse tipo de prática está mudando. “Hoje já vem um outro movimento ganhando força, por exemplo com os professores da usp que constroem prédios onde os idosos podem morar lá, pagando uma taxa, os moradores pode escolher seus vizinhos. Assim fica um clima entre amigos, poder tirar o estigma que as instituições de longa permanência tem”, comenta.


 

Além do Lar Torres de Melo, Fortaleza conta com mais de 17 lares para idosos na cidade, sendo apenas um deles público. Confira no mapa todas às instituições para idosos em Fortaleza:

 O Estatuto do Idoso, criado em 2003, garante o direito fundamental do idoso, seja em casa ou dentro de uma instituição como o Lar Torres de melo. Esse tipo de conquista serve para legitimar os  direitos da população idosa.

O que o estatuto diz?

O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.

Art. 2 do Estatuto do Idoso

Violência contra o idoso

“A violência se manifesta pela a ação ou omissão, a negligência, e omissão também é uma forma de violência contra o idoso, de deixá-los em uma condição vulnerável, quando se fala em velhice primeiro a gente tem que compreender o que é velhice, o preconceito tá aí, principalmente por que as pessoas tem uma visão cristalizada e homogênea do que é a velhice - ha são lentos , são rabugentos...” - Angélica Maria , psicóloga.

 

No Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, observado em 15 de junho, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no Brasil fez um alerta para os riscos e sinais de agressões — físicas e psicológicas — contra a população na terceira idade. Com o aumento do número de idosos no país, agência da ONU vê necessidade de protegê-los contra violações de direitos e de valorizar suas contribuições para a sociedade.

 

A violência contra o idoso pode ser classificada em cinco categorias; violência física, quando consiste no uso da força física com a intenção seja causar dor ou lesão; a violência, que psicológica inclui ações verbais ou não verbais que geram angústia ou dor de ordem emocional; abuso sexual envolve qualquer tipo de atividade sexual não consensual; abuso financeiro refere-se à exploração ou apropriação indevida de bens de uma pessoa idosa para ganhos pessoais ou monetários; negligência e abandono, uma das formas mais comuns de abuso, podendo ser proposital ou não, por parte de familiares e cuidadores.  

 

Tipos de Violência

Física

Financeira

Psicológica

Abandono

Sexual

Violência contra o idoso

Denúncia

Segundo a Agência Brasil, só em 2017 a violência contra pessoas idosas gerou 33.133 denúncias e 68.870 violações. Nas denúncias de violações, 76,84% envolvem negligência, 56,47%, violência psicológica, e 42,82%, abuso financeiro e econômico. A maior parte dos casos, 76,3%, ocorre na casa da própria vítima.

 

Muitos idosos são deixados em lares devido à violência ou abandono de seus familiares. Entenda um pouco da violência contra o idosos no infográfico abaixo:

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Relato de violência

Você pode conferir o relato da família de uma idosa que passou por abuso financeiro no podcast abaixo:

Podcast: é hora de falar - Com Rayanna Carmo
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Podcast

Sobre

Está reportagem é o produto final da disciplina de Jornalismo Investigativo do curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor),

Orientadora: Adriana Santiago

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Lígia Grillo

Estudante de Jornalismo

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Raisa Martins

Estudante de Jornalismo

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Rayanna do Carmo

Estudante de Jornalismo

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